quinta-feira, 4 de julho de 2013

Fim do romance rockstar.



Estávamos em um destes cafés com ar inglês em que sempre costumávamos ir desde o início do nosso relacionamento. Mas agora era diferente. O café era o mesmo, as mesas dispostas nos lugares de costume, também, as luzes estavam no mesmo lugar, o dono era aquele senhorzinho de bigode engraçado que sempre apelidávamos de "Salvador Dali”, o que mudou foi o clima entre nós. Lá fora fazia frio e dentro mais ainda. A culpa não era do ar condicionado super moderno, que pseudo-Dali  acabara de adquirir, o frio vinha de nós, mais precisamente, de você.
No Jukebox antigo, alguém depositou algumas moedas e uma música com uma melodia harmônica, com guitarras elétricas e barulho de pratos começou a tocar. A letra dizia “She loves you, yeah, yeah, yeah". Você sacou a banda, olhou para mim, deu aquele sorriso amarelo e voltou à atenção para o seu maldito celular. Afinal, já dançamos muito ao som desta música do Beatles nos salões de rock, onde bancávamos Johnny Cash e June Carter e todos abriam a roda para nosso show.
Estes tempos eram bons. Após rodopiar, cair e beber uma dose a mais de tequila, sempre seguíamos para seu apartamento ou para o meu, e quem sabe para um motel barato mais próximo, mas que correspondesse com nossos desejos, que naquelas horas eram o de apenas ficarmos juntos.
Fiquei perdida entre as memórias enquanto no Jukebox a música ainda ecoava. Você começou a chamar meu nome e eu demorei alguns segundos para corresponder. Perguntou-me se eu ainda ficaria mais algum tempo no ambiente ou aceitaria sua carona até o metrô, pois, precisava voltar para o escritório e resolver algumas pendências na área da contabilidade, a qual eu não entendo bolufas.
Assenti com a cabeça e você me correspondeu com um beijo seco entre o lábio superior e uma parte do meu nariz, que se alguém cronometrasse não daria mais de 0,5 centésimos de segundo. Olhei de uma forma desacreditada e engoli seco aquele beijo misturado com uma vontade de chorar. Não chorei, seria demais para mim, para você, para nós.
Voltei os olhos para meu café que nesta altura já estava se equiparando ao gelo do seu beijo. Você proferiu mais algumas palavras como “Vou deixar dinheiro no caixa, não se preocupe, ligo à noite", eu nada disse. Apenas olhei para aqueles olhos castanhos escuros que naquele momento pareciam ter se personificado em dois monstros que me comiam sem ao menos me mastigar.
Curvei os meus para que a dor não fosse tão intensa e você se foi. A sua saída daquele ambiente seguiu com a mesma música que nesta hora, para a sua pessoa, não fazia mais importância se "She loves you and you know that can't be bad".
Eu continuei mais alguns instantes, enquanto no Juke começava a tocar outra música dos britânicos, mas agora, ela se encaixava em mim e não em você. Eu pensei no ontem já que hoje "All my troubles seemed so far away  now it looks as though they're here to stay". Levantei-me e segui até a estação de metrô mais próxima, sabendo muito bem que dificilmente seríamos tão imbatíveis e apaixonados como Yoko Ono  e John Lennon.

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